No galpão ao lado da rua que ele mora tem um centro de umbanda, todas as noites quando passo pras reuniões na igreja, ele está na janela vendo a dança das morenas através da vidraça, elas dançam de forma tão pura que envolve até mesmo meu olhar de católica praticante, é envolvente suas entregas do corpo e a dança acaba por ficar sinuosa, mesmo se não houvesse intenção. Fiquei sabendo da Sabrina, uma das meninas que teve de ser batizada com outro nome quando aceitou a essa pratica religiosa, agora ela se chama Ina que quer dizer fogo... Ela já foi do mesmo grupo que eu no período colegial e fizemos a primeira eucaristia juntas, ela sempre foi a mais bobinha da turma, talvez por isso nunca tenha se dedicado a nada é sempre levada pelas conseqüências dos atos de quem está ao seu redor e, por isso mesmo, hoje é umbandista foi levada pela influencia, também, da dança (ela sempre gostou de dançar), e o faz tão bem que não tem como não prender nela os olhos. Ele é católico também, mas pouco freqüenta os movimentos paroquiais e isso me dar uma leve insegurança de que ele possa gostar daquilo que olha, não das meninas, mas daqueles ritos, sei lá! O Maximo que eu consigo fazer e nem é tão bem, é organizar a liturgia da celebração, enquanto elas são tão enfeitiçáveis com aqueles ritos de adoração a volta à casa do pai! Outro dia até comentei indiretamente sobre isso, mas ele desconversou... (OLIVEIRA, Fátima)
"...Dando a entender que é mero acaso ou coincidência ele está ali a observar a “dança das morenas”. Porém, me confessou que gosta de contemplar todo aquele movimento umbandista. Percebi um leve sorriso nele e isso me deixou preocupada, há tempos que tento convencê-lo a participar mais dos movimentos da igreja e não obtive tanto sucesso. Aquela aparente felicidade em seu rosto me deixou receosa, sem saber se era por causa da Umbanda, em si, ou se era por causa daquelas “dançarinas sinuosas” dentre elas, Sabrina. Seria essa então a questão? Estaria ele indeciso a que religião seguir ou em dúvida entre Sabrina e eu?
Sábado, enquanto eu organizava a liturgia da celebração, ele adentrou a igreja com seu movimento rápido de pernas em contraste com um angelical sorriso que trazia no rosto. (Até de olhos vendados eu saberia quem o era). Perguntou se incomodava, afirmei que não. Depois de um breve silêncio..." (SILVA,marcelo)