quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Silêncio



Ouvi outro dia um grito absurdamente silencioso que me fez tapar os ouvidos e calar-me. Fiquei a partir dele não surda, mas muda, sem respostas que chegasse ao seu alcance. Doeu como dói nascer, e nasci a partir do instante em que me calaram. Quando não soube dizer o porquê da dor, do medo, do não, que diante do sim se fez juiz do saber agir, e não promessas. Desde então sou voz gritante que diz em silencio que amar é afinar, desmanchar as artes, é inventar, dançar, mesmo que se errem os passos. O silencio me fez sombra de certezas que nem sempre precisam de profecias ditas. Aprendi a dizer não, sim, sem usar das magoas ou das alegrias surpreendentes que ambos possam trazer, em disfarce dou eu a versão para ambos através daquele que um dia achou ter me humilhado quando me deixou sem fala. Depois disso não me tornei sábia, mas descobri que há um meio mais fácil para ser verdade. 

fátima  oliveira     

domingo, 23 de outubro de 2011

Triagem


O espírito às vezes ainda lamenta ao outro que o sacie, as lacunas continuam sempre que um vento forte trouxer o que não é sólido, é preferível que a areia escorra pelas mãos... As tardes de chuvas ainda nos farão afogarmo-nos em um copo de guaraná, e mesmo assim, haverá securas, desertos! Calaremos nossas dores em poesias, canto fúnebre, no silencioso brado por socorro, em um olhar que diz apenas fique ou venha?  Cabe ao resistir declarar ou chorar, ha uma duvida que pode ser dividida através de um expor que nem sempre alivia, mas que liberta a prisão de ser só ou que prende na necessidade de partilha. São os vazios querendo ser parte de um ser que se descobre imperfeito pelo ato de não se permitir assim... Dando vez para o que falta, buscando ser completa. A sede continuará na medida em que a água falte, mas a estrada propõe a chegada a uma fonte, ainda assim a necessidade de uma mão será comparada a água que no fim não mais nos saciará, pois as sedes do agora precisam ser afogadas.           

fátima oliveira

domingo, 16 de outubro de 2011

Provações!



E na pluma leve descansa a dor e é na armadura densa que reage o amor. Que contradições são essas que me fazem querer ser pra sempre porcelana?  Só quero o lugar melhor da sala, que não me deixem empoeirar o rosto, que me sejam oferecidos olhares e que mesmo quando cabisbaixo, possam me ver esses olhos, (melhor com a alma) O valor está não apenas no bronze que me permitiria ser bela a ponto de um apreço, mas no quanto esse significaria pra alma que necessita de vida. Desejo ainda, ser protagonista de minha própria historia, pois não darei conta de ser multidão eufórica que nunca para, que anda sem saber em qual direção está indo. Quero andar sem salto, se for o caso, mas só quero ser feliz da forma mais digna que Deus me permitir. Ainda me encontrarei numa curva perigosa e descobrirei a graça que há nos recomeços ou no simples ato de saber ficar.  
  fátima oliveira

terça-feira, 11 de outubro de 2011

À meus poetas!


Mais uma noite de sonho...

Sonhei com uma figura ilustrada em grafite, com uma meia lua ao centro enquanto um olhar meio que perdido observava de um alpendre simples, numa casa humilde e com alguém que contrastava com sua poética postura ao erguer-se sobre o peitoril iluminado o sonho de descobrir a magia por trás de um brilho invasor e segredado de encantos. Não reconheci no sonho o autor que poetizava a noite com um gesto tão romântico e evangelizador, a figura sem movimentos fez gerar sentidos, pela simplicidade de um ambiente pacato e tão real... Desperta, levantei manso buscando razões para entender o encanto que um sonho rabiscado estampava, a ponto de sufocar as dores e imprecisões. A noite era negra e o sujeito não denominava cor. Só a lua imperava o brilho, porém não a vi, senão, no reflexo que o tal olhar transparecia. O dia exige provas, concretudes e na busca por humanizá-lo não foi difícil encontrar quem poderia assumir no meu coração presença viva de alguém tão docemente poético e particularmente real... Seria Jorge, Marcelo, Sandrio, João, Renato,  Edilson, Leandro, (foram tantos nesse 1ª ano que souberam notar minha poesia). Porém, seu nome será Tatá.  Ele é a figura que poetizou o sonho. Ele de maneira “tosca” poetiza minha vida. Sem palavras ou tantas vezes sem presença física, me exemplifica com o que é real, humano, me faz provar o sabor verdadeiro que ser bobo custa. Com ele aprendo; seja com sonhos ou perdas. Ele é uma das pessoas que escolhi para amar. E o escolhi sem lua, sem poesia, sem olhar. Foi numa realidade indefinida, e humanamente regrada. A amizade é como uma corda que enlaça os pés sem que sejam preciso os nós. Não sei do começo. Recordo-me dos momentos de raiva que já me fez sentir (ele me incomoda) talvez por isso sua vida seja motivo de eternidade em mim. Talvez fosse melhor não dizê-lo sobre isso, ele não dará à mínima, não por arrogância, mas porque, assim como os demais,  ele me faz acreditar que não precisa, que tudo é muito maior que um mero poema. Porém é assim que escolho comemorar um ano das palavras simples, essa é a forma de dizer que ele existe porque existem verdades de sentimentos que se fazem eternos em meio às contradições da vida.  
fátima oliveira

domingo, 2 de outubro de 2011

Sem nome, amor!



Existem vestígios de você pela minha pele, não a pele que o sol encarde, mas a pele da alma. Há em mim um sorriso teu em cada ponto, um cheiro teu em cada brisa, há em mim um querer de reverte, um sentido partido de voltar a encontras-te. Não só como veneno é esse vício, mas antes, como o doce que há no sangue que a veia se alimenta. Vez ou outra percebo-te aqui, sendo eu, agindo em mim como a razão que o ato atribui o sentido. Meus olhos o ver sem buscá-lo, és o que provoca meus arrepios, o que aquece meu frio da alma em tarde escaldantes. Não diria que o tenho, antes, fazes parte do que sou, pois sem ser sonho és em mim o que já está o que já é. Um sentido que não tem nome, poderia ser tudo o que é infinito e ainda assim seriam miseráveis as comparações, pois não serias tu, apenas forças, mas também inércia o que me deixa sem ar, o que me faz parar, em mim você é mais forte do que eu mesma já pude me imaginar. 
fátima oliveira